Adequada ou não?

Afirmámos que a ferramenta de avaliação online em análise parece ficar a meio caminho entre uma avaliação focada no medir e no classificar e uma verdadeira avaliação alternativa digital, entre a cultura do teste e a cultura da avaliação.

Apontámos vantagens para os alunos e para o professor e indicámos várias fragilidades da rubrica, que a afastam dos princípios teóricos das boas práticas da avaliação digital.

O facto é que, no estrito âmbito das rubricas para avaliar a produção escrita em Inglês como segunda língua (ESL), a rubrica usada identifica-se com uma longa tradição de parâmetros e rubricas de referência (Brooks, 2012):

O uso deste tipo de rubricas em ESL para avaliar a produção escrita foi “herdado” do uso das rubricas com a mesma finalidade no ensino de inglês como língua materna (Brooks, 2012). Elas servem para padronizar, uniformizar, catalogar e classificar níveis de proficiência escrita. O que tem lógica, se pensarmos que foram criadas no paradigma de avaliação identificado com a cultura do teste. Corporizam a avaliação como medida.

Há autores que defendem o uso das rubricas para avaliar a escrita em ESL e outros que não as consideram adequadas para o desenvolvimento desta competência. Também não há concordância sobre se as rubricas contribuem para uma avaliação mais eficaz ou mais rápida por parte do professor (Brooks, 2012, e Chowdhury, 2018).

O que é certo é o estudo das rubricas ainda não está muito desenvolvido (Brooks, 2012, e Chowdhury, 2018). Muitos professores desconhecem-nas, muitos não as usam formativamente para estimular e desenvolver aprendizagens nos alunos, e assim se desperdiça o potencial formativo de uma rubrica bem construída:

a well-designed rubric can also make enormous contributions to the quality of a student’s education. Rubrics can help students conceptualize their learning targets
and monitor their own progress. Rubrics can be used by students as part of a formative assessment for continuous tasks, which can help students regularly assess the quality of their own work and make improvements accordingly.”
(Chowdhury, 2018)

Como saber se a rubrica é ou não adequada?

Respondendo a quatro questões-chave, tal como as formularam Turley e Gallagher:

“In their article “On the Uses of Rubrics”, Turley and Gallagher (2008) point out that, “instead of declaring all rubrics ‘good’ or ‘bad,’ we need to examine what they do, why, and in whose interest” (p. 92). They propose a 4 point heuristic to analyze the value of rubrics (or any pedagogical tool):

  1. What is the tool for?
  2. In what context is it used?
  3. Who decides?
  4. What ideological agenda drives those decisions? (Turley & Gallagher, 2008, p.87)

It is these 4 questions that provide a starting point for the evaluation of the effectiveness of rubrics in English language writing” (Brooks, 2012).

Questões-chave

Do ponto de vista pedagógico, para que era a rubrica? Para a professora avaliar os textos produzidos. Podemos questionar essa opção e considerar que o tipo de avaliação proposta, neste caso, foi pouco alternativa, apesar de ter sido digital.

Mas vimos que o processo que originou o produto foi centrado no aluno. O contexto não era de trabalho colaborativo, mas sim de trabalho individual. Também podemos questionar essa opção. Mas o que estamos a analisar é um momento isolado de toda uma sequência de aprendizagem.

A quem coube essa decisão? À professora. Foi ela que monopolizou o “capital pedagógico”. E pode ter também desperdiçado oportunidades de investimento futuro? Impediu ou dificultou desenvolvimento de aprendizagens e competências? Só podemos especular sobre isso. O contexto é o de um caso isolado. Também não podemos tirar grandes ilações sobre uma qualquer “agenda ideológica” a partir deste caso. Para isso precisaríamos de analisar mais momentos casos de avaliação digital da mesma professora.

Teacher-focused

Voltemos ao contexto e ao propósito da rubrica em análise e recordemos que ela vai avaliar a execução da tarefa de escrever um texto jornalístico. Provavelmente será menos eficaz a dar feedback aos alunos no momento da avaliação. Esta rubrica foi construída mais para ajudar a professora a classificar, do que para ajudar os alunos a monitorizar um processo contínuo de melhoria da sua produção escrita. Portanto, é mais sumativa do que formativa e formadora.

Assim, tendo em conta apenas o contexto e o propósito da rubrica, podemos considerá-la adequada para o professor e menos adequada para os alunos, enquanto instrumento formativo e autorregulador das suas aprendizagens. Afinal, tendo ficado bem no centro do processo de aprendizagem, os alunos poderiam ter sido mais integrados no processo de avaliação, com maiores ganhos pedagógicos.

Referências

Brooks, G. (2012). Assessment and academic writing: A look at the use of rubrics in the second language writing classroom. Humanities Review17. https://www.researchgate.net/publication/324217649_Assessment_and_academic_writing_A_look_at_the_use_of_rubrics_in_the_second_language_writing_classroom

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